domingo, 16 de dezembro de 2012

Fui de visita à minha tia a Marrocos


Fui de visita à minha tia a Marrocos

Fui de visita à minha tia a Marrocos (Hip Hop)

Fui de visita à minha tia a Marrocos (Hip Hop)

Fui de visita à minha tia, fui de visita à minha tia, fui de visita à minha tia a Marrocos (Hip Hop)



Singing aya iupi iupi ai

Singing aya iupi iupi ai, ai ai ai ai

Singing aia iupi iupi aia, iupi iupi aia, iupi iupi ai

Hip Hop



Para lá viajei de camelo (Ondulá)

Para lá viajei de camelo (Ondulá)

Para lá viajei , para lá viajei , para lá viajei de camelo (Ondulá)



Singing aya iupi iupi ai

Singing aya iupi iupi ai, ai ai ai ai

Singing aia iupi iupi aia, iupi iupi aia, iupi iupi ai

Hip Hop, Ondulá



P’lo caminho eu comi um bom porquinho (Ronc ronc)

P’lo caminho eu comi um bom porquinho (Ronc ronc)

P’lo caminho eu comi, p’lo caminho eu comi, p’lo caminho eu comi um bom porquinho (Ronc ronc)



Singing aya iupi iupi ai

Singing aya iupi iupi ai, ai ai ai ai

Singing aia iupi iupi aia, iupi iupi aia, iupi iupi ai



Hip Hop, Ondulá, Ronc ronc



Para acompanhar bebi um bom vinho (Glug glug)

Para acompanhar bebi um bom vinho (Glug glug)

Para acompanhar bebi, para acompanhar bebi, para acompanhar bebi um bom vinho (Glug glug)

Singing aya iupi iupi ai

Singing aya iupi iupi ai, ai ai ai ai

Singing aia iupi iupi aia, iupi iupi aia, iupi iupi ai

Hip Hop, Ondulá, Ronc ronc, Glug glug



De regresso viajei de comboio (uh-uhh)

De regresso viajei de comboio (uh-uhh)

De regresso viajei, de regresso viajei, de regresso viajei de comboio (uh-uhh)



Singing aya iupi iupi ai

Singing aya iupi iupi ai, ai ai ai ai

Singing aia iupi iupi aia, iupi iupi aia, iupi iupi ai

Hip Hop, Ondulá, Ronc ronc, Glug glug, uh-uhh



Da janela disse adeus à minha tia

Até breve! (Bis)

Da janela disse adeus à minha tia

Até breve !



Singing aya iupi iupi ai

Singing aya iupi iupi ai, ai ai ai ai

Singing aia iupi iupi aia, iupi iupi aia, iupi iupi ai

Hip Hop, Ondulá, Ronc ronc, Glug glug, uh-uhh Até breve !  

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

All together now.


terça-feira, 13 de novembro de 2012

One Perfect Rose

A single flow'r he sent me, since we met.
All tenderly his messenger he chose;
Deep-hearted, pure, with scented dew still wet -
One perfect rose.

I knew the language of the floweret;
'My fragile leaves,' it said, 'his heart enclose.'
Love long has taken for his amulet
One perfect rose.

Why is it no one ever sent me yet
One perfect limousine, do you suppose?
Ah no, it's always just my luck to get
One perfect rose.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A hora da conversa

           Chegara a hora de ter uma conversa com ele. Gerard andava triste, cada vez mais ocupado com trabalho, mais cansado e cada vez mais sozinho. O motivo do seu desânimo era fácil de perceber. Os tempos eram tortos sem dúvida, o governo não dava margem de manobra às pequenas e médias empresas como o caso desta. Enquanto as grandes monopolizavam o mercado e a concorrência, recebiam ainda grande maioria dos subsídios. As outras, claro, enfraqueciam e abriam falência levando com elas, dezenas de empregados ao desemprego e famílias á ruína.
             As vendas eram fracas e o motivo estava á vista. Só o governo não percebia que quanto mais retirava aos portugueses, menos eles compravam. Não havia poder de compra, não havia circulação de dinheiro, não havia libertação de capital, ficava estagnado e não se multiplicava. Mas a grande questão de Gerard, bem como a de todos nós, era como manter os nossos cerca de cento e trinta empregados.
Para a empresa subsistir tinha que haver despedimentos “layoff's” como dizem os americanos. Era óbvio, era assustador e triste mas o “downsizing” era talvez a única solução e devia ser encarada como uma realidade que a qualquer momento iria acontecer. É uma regra que se aprende na faculdade e faz parte do bom senso de qualquer gestor. Só ele não percebia isso, não sei se era por não perceber nada de gestão ou se estaria a alimentar um sonho de que as coisas iriam melhorar por si só.
            Cheguei ao trabalho e preparei as coisas. Tirei um café na máquina da sala de refeições da direção. Tinha lá também uma máquina de bolos, o micro-ondas e uma mesa. Olhei para a televisão, estavam a passar as notícias da austeridade que eram habituais e comuns a qualquer outro dia, nada variava a não ser o valor que o governo iria “roubar” ao seu povo. A situação económica piorava de dia para dia e não era só em Portugal, a austeridade assombrava o mundo inteiro. Uma pessoa chegava a sentir-se culpada por receber 3000 euros por mês quando a situação geral era receber 475, 500, 600 euros. Gerard no entanto, pagava 350 euros á mais que ordenado mínimo aos seus empregados. Ele remunerava em média, 850 euros por empregado. É na verdade, e nos dias que correm, uma quantia aceitável.
Acabei de beber o café e como ainda não o tinha visto passar decidi dirigir-me ao seu gabinete bater á porta. Antes do seu gabinete estava Natália a secretária e também Francisco o contabilista debruçado sobre papelada, contas, lucros, faturas, procurando onde poupar mais.
            Batia a porta e logo uma voz me disse “entre”.
- Gerard! - indaguei eu. Estava com a mesma roupa de ontem. Estava explicado porque ainda não o vira a passar. Ele não passara ali a noite, a trabalhar. O seus olhos estavam negros das olheiras o cabelo despenteado todo ele parecia fraca. Perguntei-me se ao menos teria comido qualquer coisa.
            - Gerard – interrompi bruscamente. – Temos que falar.
- Não há nada para falar. Eu sei o que pretendes e digo já que não aceito.
            - Mas é o mais correto.
            - Ainda há solução – teimou ele.- Se cortarmos aqui, descermos o preço do produto e das embalagens. Se alterarmos exponencialmente a circulação dos enlatados. Podemos tentar expandir para outras zonas. Reposição imediata em grandes superfícies
            - É tudo uma ilusão Gerard. Vais ter que acabar por tomar essa decisão, mais tarde ou mais cedo.
            - Não vou – levantou ele a voz. Assustou-me. - Olha bem para ali para a vitrina. Tenho gente com família que nunca faltou, nunca chegou atrasado, vieram trabalhar constipados, fizeram horas extras quando lhes foi solicitado. Que motivo vou dar eu para lhes despedir.
            - Ora! Eles iram compreender. – disse eu. Só depois me apercebi que era uma asneira. Ninguém compreende um despedimento com base no capitalismo.
            - Compreendes tu por eles porque a ti não te falta comida. A eles sim. Trabalha ai uma mãe solteira com três filhos pequenos. Com que cara, vou eu dispensa-la dos seus serviço para a empresa faturar mais. E como ela existem inúmeros outros casos.
            Não consegui dizer nada. Ele chamou-me a razão, contudo a minha atitude era para o bem da empresa, dele especialmente.
- Já lá vão 2 anos desde que cá estás – continuou – sempre achei que tinhas potencial, porque não confias em mim agora quando eu mais preciso. Porque não usamos todos a cabecinha e vemos o que se pode fazer para não despedir as pessoas que não merecem, que precisam do trabalho. Não quero sem mais um tirano nesta sociedade.
            Ok então fazemos assim: eu pensarei em algo e convocamos uma reunião para as vinte horas. Todos sem exceção aqui na empresa para falarmos sobre isto. Ninguém sai daqui até ficar tudo claro, até arranjarmos uma solução ambigua. Entretanto tu vais dormir porque também não estás a pensar com clareza.
            Ele aceitou. Embora eu soubesse que ele não ia voltar atrás com a sua decisão. Manteria a sua postura até ao fim. Quando disse que ele não estava a pensar com clareza não escolhi bem o termo. O seu raciocínio era claro, conciso, e digno, a única diferença é que era direcionado para um bem mais nobre. De gestão até podia não perceber pevas mas da condição humana ele sabia até de mais. O homem não é um tirano, ele afinal tem coração era ponto assente. Todos nós pensamos e debatemos e após ele mostrar a sua opinião verificamos que ele descartou o Downsizing. Ele fez melhor que isso, rentabilizou a empresa.

Sara Van Winkle

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Saíram todos detrás da cortina e gritaram. Parabéns Parte 2


Tinha anotado numa folha as coisas que tinha para fazer. Parecia a lista de Beatrix Kiddo no filme Kill Bill. Número um: matar o pasteleiro. Não. Não é verdade o primeiro sítio onde tinha que passar era numa sapataria… matar o sapateiro. Ah ah! Também não é verdade. Tinha que lá passar, sim, mas era para trazer uns sapatos que tinha reservado. Depois tinha que passar na pastelaria para levantar o bolo de aniversário que tinha encomendado e ainda fazia contas de ir á livraria, tinha o dia todo preenchido. Já havia tomado o pequeno-almoço em casa assim que acordei. Café com leite e uns croissants. Um pequeno-almoço á parisiense. Também já riscara a ida ao cabeleireiro que me fez uma maravilha com o cabelo. Estava, de momento, perto da livraria e aproveitei para levantar logo o livro que tinha encomendado. Entrei e esbarrei com um antigo ex-namorado que também lá estava. Já não o via há largos anos.
Estava de costas e tive que andar de volta dele a fingir-me interessada nos titulos até confirmar que era mesmo ele.
James! – disse eu
Ele estava concentrado num livro de Ernest Hemingway, por isso não respondeu. Olhei para ele e imaginei-lhe como quando nos tínhamos conhecido há longos anos. Era como se não tivesse mudado de forma alguma. A sua silhueta estava perfeita.
- Ernest Emingway hein? Sempre foi o teu autor favorito.
- Amanda! – estranhou ele – Amanda! - repetiu com mais ênfase.
- James como estás? Tudo bem?
É sempre estranho encontrar um ex-namorado antigo que nos marcou. Há certos pensamentos que nos atravessam a cabeça a vinte mil rotações enquanto sorrimos ridiculamente: “Será que estou bonita?”, “porque é que isto tinha de acontecer hoje?” “logo hoje que estou tão ocupada!”. “Está bonito!”, “deve ter namorada!” “ será que ainda sente alguma coisa por mim?”, “porra o que faço agora?”. “ Fuck, fuck, fuck, merda”.
Esses encontros, no entanto, obedecem a certas regras. Primeiro as expressões. Começamos por ficar surpreendidas depois contentes e nunca tiramos o sorriso da cara. Permanecemos sorridentes até ao fim. Depois vem a conversa trivial, que tem implementado algumas frases chaves que seguem a seguinte ordem: Como estás? Que andas por aqui a fazer? Estás formidável ou estás com bom aspeto! E de resto como está a tua vida? Então e de amores? E a pergunta final: Queres ir beber café?
Este encontro, como todos os outros, não fugiu á regra.
- Estou bem – afirmou ele - e tu que contas.
- Tou a ver uns livros.
- Pois, pensei que tivesses vindo comprar chanatos. – gracejou
- Ahh tens razão é uma livraria… Vim buscar um livro que reservei. O novo romance da Sarah Van Winkle.
- “Nunca é tarde á meia-noite”?
- Sim é esse mesmo! Reservei para dar a uma amiga. É o aniversário dela.
- Boa escolha Amanda. É muito bom, aliás, qualquer livro dela é bom
- Bem sei. Bem sei. Então estás a trabalhar em que? - perguntei
- Nada de especial! Sou apenas coordenador de departamento da OHMS.
- Engraçado! Não é mesmo nada de especial e eu a pensar que estavas a virar frangos. - Sorri
- Sim tem o seu que de responsabilidade. E tu?
- Sou assistente do presidente de uma fábrica de enlatados
- Isso é bom. Qual é a marca.
- “Enlatados de Portugal” pertence a companhia “Portugal não vai nada mal”.
Fez-se um pouco de silêncio. Ambos sorriamos estupidamente, apalpávamos as abas dos livros e líamos os títulos e as sinopses como dois miúdos de escola envergonhados.
- Estás formidável Amanda. - observou James.
- Não exageres, fui agora arranjar o cabelo por isso é que pareço rejuvenescida.
- Não Amanda. Estás mesmo.
- Tu também, James. Estás com bom aspeto. Deves ter todas as raparigas atrás de ti. – disse eu.
- Nem por isso, não me tenho dedicado muito a isso. E tu.
- Também estou igual. Ando mais vocacionada para o trabalho. Mas tenho sempre tempo para um copo ou dois.
- Nisso estamos de acordo. Queres beber um logo? Falar de coisas?
- Logo vou estar ocupada numa festa de anos mas manda-me uma mensagem talvez a festa já tenha acabado.
Trocamos os números e ainda ficamos a falar por mais um algum tempo. Subitamente olhei para o relógio, reparei que já se fazia tarde, despedi-me educadamente dele e tudo o resto que tinha para fazer durante o dia foi feito a correr como corri entrei nas lojas agarrei o que tinha encomendado e deslocava-me para outra loja parecia o videoclip de uma banda de rock.
Consegui concluir tudo o que tinha programado, eram quase horas de jantar, ligaram para saber onde andava porque já lá devia estar.
Cheguei a tempo para a festa surpresa, já havia muito coisa arranjada: os comes, os bebes, o karaoke. Só faltava mesmo a aniversariante que também não tardaria a chegar. Pus o bolo na mesa e guardei o livro na mesa dos presentes. O bolo já tinha as velas postas. O namorado, que tinha preparado tudo, mandou mensagem, queria dizer que estavam prestes a chegar, já deviam estar no prédio. Apagamos as luzes e escondemo-nos todos para que quando chegassem gritássemos
Enfim, ouviu-se as chaves a rodar a porta e entraram, o namorado dela acendeu as luzes desculpando-se por não ter preparado nada para a festa, o que ra mentira Vanessa nem sonhava com a surpresa que lhe esperava. Saímos todos detrás da cortina e gritamos em conjunto, Parabéns.
            A festa estava fantástica mas algo me entristecera. Eu via aquela felicidade entre Vanessa e o namorado, o cuidado com que ele preparou a festa a atenção para a sua cara-metade. E eu? Quando vai chegar a minha vez de ter alguém que me prepare uma festa, ou que me prepare o jantar quando chegar tarde a casa? Foi então que recebi uma mensagem do James. “sempre queres ir dar uma volta, beber um copo.” Voltou-me o sorriso à cara e respondi-lhe que ainda estava na festa mas que daqui a pouco já saia e que lhe ligava.

Sarah Van Winkle

Em “ O diário de Amanda”

Saíram todos detrás da cortina e gritaram. Parabéns. Parte 1 (Júlio)

            O dia começou bem. Já pedira o dia ao Gerard há mais de um mês. Ele gentilmente mo concedeu após um enorme discussão que surgiu por outros motivos, estritamente profissionais.
O despertador tocou bem cedo, eram nove horas. Levantei-me e abri imediatamente todas as cortinas do loft para entrar o sol. Estava bem-disposta e com vontade de aproveitar o dia. Decidi ir ao cabeleireiro do Júlio, tinha a sensação que o meu cabelo estava uma lástima ao que ele admitiu quando lá cheguei, porém a sua estratégia de marketing é dizer a todos os cabelos que estão uma lástima.
- Cherrí! - disse ele ao ver-me – Olha-me esse cabelo – nem me deixou falar, não proferi sequer uma palavra – Ia perguntar-te como estás fofa, mas o teu cabelo confessou-me tudo. Está as precisar de um arranjo, está uma lástima. Meu Deus! ainda por cima tenho o salão cheio, mas não te preocupes, arranjo um espaço para ti querida, tu mereces. Também deve ser aquele teu patrão mal-encarado que te anda a desgastar, não te dá descanso. Trata-me mal o ordinário?
Júlio fazia maravilhas com os cabelos, era óbvia a sua orientação sexual e o principal defeito era ser um alcoviteiro da pior espécie Era necessário mais do que uma vez chamar-lhe a atenção, no entanto gostava muito dele e era a minha primeira escolha quando se tratava de arranjar cabelos.
- Ele não é mal-encarado nem grosseiro. Mas tens razão Júlio o trabalho dá cabo de mim.
            - Vê-se filha! Olha como estás?
- Não estou assim tão mal.
- Não está assim tão mal porque a natureza deu-te o dom da beleza. És uma Afrodite mas mais algumas semanas e entravas aqui feita num farrapo.
- Que exagero Júlio.
- Exagero é o teu cabelo.
Não esperei mais do que 15 minutos para estar sentada num cadeirão á confiança das mãos de Júlio. Ele perguntou-me o que queria, sugerindo acentuar os caracóis, rapinar as pontas gastas e dar-lhe um tratamento revitalizante. Mas eu disse-lhe que desta vez queria experimentar desfrisar. Ele ficou surpreso mas eu continuei. Queria um corte curto, assimétrico. Disse-lhe que abusa-se do desfiado e do degradê. Queria um corte curto na nuca que preserva-se as pontas longas.
- Mas e os caracóis, honey. Tens caracóis que metem inveja a qualquer mulher.
- Eu sei Júlio mas quero experimentar algo diferente e não é permanente não sejas tão dramático. Sou a tua cobaia. Confio em ti.
- Pois bem, assim seja Amanda.
Ele trabalhou durante uma hora da qual pouco falou o que não era comum. Suou de andar de volta dos meus cabelos ora estava á minha direita ora estava a minha esquerda. Creio nunca tê-lo visto tão concentrado. Com uma das mãos prendia as pontas dos cabelos com a tesoura na outra mão cortava-as, o pente prendia-se-lhe nos lábios sempre pronto a alisar e alinhar os cabelos. Era incrível o sincronismo dele a trabalhar com aquelas ferramentas. Esforçou-se ao máximo e enfim, após uma hora ele havia terminado.
- Et voilá. – finalizou Júlio
- Está perfeito. Oh Meu Deus como está perfeito, e desconfiavas tu do teu talento. Devias ter vergonha.
- Depois do resultado final até eu estou surpreendido – comentou Júlio – superei-me em larga escala.
- Não te trocava por um Paul Mitchell. Muito obrigada.
- Kiss beautiful. Agora terá qualquer homem aos teus pés.
- Todos, menos aquele que eu quero. Mas não vou estragar o dia com essas pieguices. Obrigado Júlio.
 Aquele cabelo deu-me confiança para o dia inteiro, sabia no entanto que o dia ainda reservava algum trabalho com a festa que ia organizar. “Amanda” pensei “estás simplesmente fantástica”. Os homens olhavam-me fixamente mas creio que se apaixonavam apenas pelo cabelo do que pela embalagem toda. Mas que importa aquele corte fazia-me sentir dona do mundo. Adoro estes dias. Quem dera que todos assim fossem.  Agora...tratemos da festa.
Sarah Van Winkle
Em “ O diário de Amanda”

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Party

            Gerard estava de olhos postos nos documentos. Nem deu por mim quando entrei. Sou sincera: entrei no intuito de ir buscar a carteira mas também queria que ele me visse, que olhasse para mim, que me analisasse e a certa altura fui bem-sucedida.
- Onde vais assim vestida? - perguntou ele simpaticamente.
Eu disse que ia à festa da empresa que ele tinha organizado. Fazia-me espécie que o patrão da empresa e organizador da festa não comparecesse. Antigamente não havia festa que ele recusasse muito menos esta, cheia de mulheres, de álcool e de boa disposição. Gerard desculpou-se com excesso de trabalho que ainda tinha por terminar. Eu por sinal disse-lhe que ia, conheceria gente interessante e podia lá estar algum homem descomprometido com quem pudesse falar. Ele sorriu. Como se soubesse que eu não queria apenas falar com um homem descomprometido.
- Já percebi Amanda, vais pó galanteio não é? - concluiu ele em forma de questão.  - A indumentária, no entanto, não é a mais adequada, acrescentou.
- Então estou feia? - perguntei.
Ele disse que não. Estava muito bonita mas faltava-me naturalidade, estava um tanto ou quanto artificial. Foi nesse momento que ele, aquele homem, esbelto, de fisionomia definida, charmoso, bem vestido, com o cabelo curto moldado pelo gel, levantou-se da cadeira e aproximou-se calmo e sorridente. A cada passo que ele dava, o meu coração batia mais forte, perguntava-me o que iria ele fazer. Pois bem, parou á minha frente. Estávamos muito próximos. Poucos centímetros de vazio separavam os nossos corpos. Cruzámos o olhar. Aqueles olhos belos e ardentes, cor de âmbar, hipnotizaram-me desde o primeiro instante. Eu não conseguia desviar vista da sua cara, estava petrificada pela sensualidade que Gérard revelava. Estava frente a frente com a graciosidade da cara de malandro que sempre teve. Senti o bafo expelido da sua boca, cheirava a café e canela. Ergueu os braços á minha volta. Desapertou o laço azul acetinado que me prendia o cabelo e pousou-o em cima da mesa.
- Não precisas disto. - disse ele.
Com as suas mãos sensíveis sacudiu ligeiramente o meu cabelo. Não passava de uma sacudidela mas eu sentia-a como uma massagem sexual que me arrebitou todos os pontos do meu corpo.
- Tens um cabelo bonito - disse. É curto e rebelde, mas nada feio. Fica-te melhor solto e para a frente.
Ele olhou-me de alto abaixo como se observasse a minha alma. Olhou-me de tal forma que senti-me nua mas não ofendida ou intimidada. Senti-me Eva a passear no Éden. Ele aprovou os meus sapatos, os collants transparentes e brilhantes que me realçavam as pernas, a saia, o cinto, tudo. Porém, torceu o nariz na camisa branca que tinha o primeiro botão desapertado.
- Falta aqui qualquer coisa – constatou
Gérard desmanchou o nó da sua gravata que era um vermelho tinto. Levantou as golas da minha camisa negligenciando o meu busto e passou a gravata de volta do meu pescoço.
Eu continuei petrificada durante todo aquele processo. Toda aquela atenção deixava-me imóvel. Parece que nunca vira aquela peça de homem que ali estava, ou convivera tantos anos com ele e sempre fiz olhos cegos ao que ele era.
Consegui sentir a fragrância do seu perfume, Aloé-vera, que estava impregnado na gravata agora envolta no meu pescoço. Ele estava a fazer-lhe o nó mas eu não conseguia tirar os olhos da sua figura, de um momento para outro estava apaixonada. Queria ir á festa com ele, queria beber uns martínis com ele. Divertíamo-nos e depois íamos para casa, deitávamo-nos na cama, amávamo-nos um ao outro paralisando aquele instante para sempre. A ocasião pedia que os nossos lábios se unissem e pensei na realidade de isso acontecer pois o magnetismo juntava-os, mas ambos desviámos o olhar e sacudimos aquela ideia da cabeça como se fosse pecado, porém convictos de que era aquilo que queríamos. Gerard finalizou a sua boa ação com um beijo na minha cara e disse as palavras finais que terminaram aquele impasse.
- Tas muito bonita vais arrasar hoje. Diverte-te.
A guerra milenar dos sexos. Nunca ninguém ganha: eles precisam de nós e nós precisamos deles. Por vezes somos surpreendidas por estas surpresas. Fui á festa e apesar de me ter divertido voltei sozinha a casa pois Gérard não me saia do pensamento.
Ao chegar a casa chorei, como uma menina de escola cujo amor não é correspondido. Os humanos tornam a simples vida numa complicada batalha. Chorei em nome de todos os seres humanos da terra.

Sarah Van Winkle
 
Em “ O diário de Amanda”

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Óh

          Todos os dias Teodoro levantava-se cedo para dar de comer a toda bicharada que tinha em casa. Ele contava com dois periquitos, um canário, um papagaio de nome Louro, uma gata chamada Pipoca, tão afável que não fazia mal a uma mosca. Tinha também um pardal, um ratinho branco apelidado de Zico, duas tartarugas, um esquilo chamado Biscoito e um coelho de sua graça Tito. Com efeito, poucos animais faltavam para fazer da sua casa a bíblica arca de Noé e muito em breve estaria para chegar um novo inquilino. É, Teodoro tinha uma coração de ouro e os animais eram a sua única companhia.
Aos 26 anos, a sua mãe tinha partido para outro mundo e o pai partira para a tasca mais próxima era ele ainda criança, e nunca mais voltara. Sabe Deus onde estará o desgraçado nos dias de hoje, certamente bêbado. No entanto, antes de a sua Mãe ter visto a luz divina inteirou-se que o seu descendente jamais dormiria na rua, assegurando-lhe um teto neste caso a escritura da casa.

El Patronito o Ardina

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Whenever i'm feeling down



I'll always have Eunice to sing me the blues.

El Patronito o Ardina

sexta-feira, 23 de março de 2012

sábado, 10 de março de 2012

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Masturbação

Está deitado na cama mas não lhe cai o sono. Ele desenha formas de uma mulher deslizando a sua mão como se a acarinhasse. Não importa se é magra se é feia se é rabugenta se ressona; quem feio ama bonito lhe parece.
Ele imagina-a deitada e com a mão percorre-lhe todo o corpo, movendo-a em perfeita sintonia com todas as curvas que o mesmo pode ter. Acompanha o seu sono: não lhe toca com demasiada força para não acorda-la, nem com demasiada gentileza evitando incomoda-la.
Observa as suas medidas: o pescoço, as faces, os seios, o umbigo, os pés, todo a sua voluptuosidade. Observa-a com a magnificência de um homem paralisado minutos a fio, em frente a uma escultura de Michael Ângelo.
Ela pertence àquele cosmos que é o quarto, encaixa-se perfeitamente na sua cama pequena em perfeita simbiose emocional Ele ajusta-lhe o cabelo por trás da orelha e sorri, imaginando a cara dela regalada no sono, no calor do leito. Fabrica feições da cara dela, só com a mão, com os dedos, como se tivesse a trabalhar o barro. Sente-lhe as bochechas. Afaga-lhe a franja para lhe ver os olhos a sonharem paraísos e toca-lhe suavemente no nariz arrebitado sem nunca acorda-la.
Ele imagina pôr-lhe a mão no ombro, e move-a sentindo toda a delicadeza da sua pele como se avaliasse seda da mais genuína. Continua a deslocar a mão, cuidadosamente, percorrendo as formas dela, acaricia-lhe o pescoço, brinca com a orelha, sorri para ela e sonha com o seu abraço, como se ela lá estivesse.
Imagina que agora é ela que desloca a mão no seu corpo. Ele, acaricia o seu próprio ombro, como se fosse ela a faze-lo. Percorre a sua mão pela cara, afaga a sua própria nuca, faz remoinhos no cabelo, toca-se na orelha, e “cocegeja” levemente o pescoço, toca-se no nariz sempre como se fosse ela a faze-lo. Sente os seus mamilos rijos como se fosse ela massaja-los como se estivesse prestes a fazer amor. Move a sua própria mão por todas as zonas que lhe poderão potenciar o êxtase. Segreda a palavra “amo-te” e cai enfim no sono.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

ERA 11

Repito-me dizendo que a cana vibrava fugazmente. A noite tinha sido frutífera, eram já 3:50 e apanhara 2 peixes, mesmo que até as 5h não apanha-se mais nada, não ia de mãos vazias.
Era engraçado observar a cana a vibrar e saber que não estava lá nada. A primeira vez que pesquei foi obviamente com o pai. Ele dava grandes lições na pesca, e eu, ainda catraio, provocava-lhe risos sempre que a cana vibrava porque ia chama-lo a esbracejar “apanhei, apanhei”. Ele inicialmente olhava para a cana, mas na verdade era simplesmente maré que a fazia vibrar, era a maré ou os peixes a picar a isca. Ao longo da prática da pesca aprende-se a distinguir a oscilação da cana provocada pela maré, de um peixe que picou o anzol.
Então estava eu, sem tirar os olhos da cana, a ver se alguma coisa picava e ela vibrava não havia dúvida. O pai constantemente dizia que era a maré e eu chateava-o e ia a correr ter com ele, á sua cana a gritar: “apanhei, apanhei”, ele respondia sempre com sorriso: “ é a maré, é a maré”. Eu lembrava-lhe os miúdos em viagem que perguntam a todo o minuto: “já chegámos…, já chegámos” ou aqueles que estão na misse e perguntam sempre se estão a portar bem. É!… o pai se aqui estivesse ainda me havia de ensinar coisas úteis, muito úteis na verdade. Sabia quando havia de repreender e quando sorrir.
Perdi-me outra vez nas minhas divagações, devaneios, se lhe quiserem chamar isso. Tinha uma lata de anchovas para comer e uma caneca de café para beber. A cana vibrava mas ainda não estava lá nada, fui então comer sossegado pensando nas palavras do pai. “É a maré…É a maré”

ERA 10

Era então certo que iria ali ficar, ficara assim decidido. a chuva continuava a cair miudinha, condição que nem me incomodava.
Preparava-me para beber um copo de café e abrir a lata de anchovas quando subitamente comecei a ouvir uma espécie de zumbido, um “ ZZZZzzzzzzzzzzzz” forte e contínuo que me estava a fazer confusão, a cana ludibriou-me porque oscilava ao sabor da corrente e só me apercebi que algum peixe tinha ficado agarrado quando me aproximei da cana, dobrei-me e encostei o ouvido ao carreto. Não era necessário ser Einstein para deduzir que estava lá um peixe e não era pequeno. Apressadamente agarrei na cana e recolhi a linha, ainda cheguei a sentir um esticão mas a linha recolheu-se sem qualquer dificuldade e achei natural que o que lá estava tinha acabado de se soltar. Recolhi toda a linha e de facto como era previsível não estava lá nada, estava a chumbada presa na madre, mas tudo o resto tinha o levado o peixe: o estralho, o anzol e o peixe em si. Olhei o mar e raciocinei sobre que tinha feito de errado, mas o que está feito, feito está. Voltei a por a isca e desta vez apertei bem os nós. Nenhum peixe havia de lá escapar agora. Atirei o peso novamente e desta vez consegui atira-lo até cerca de 30 metros. E esperei. Pouca se faz aqui a não ser esperar e divagar. Quando estou sozinho, o que é muito frequente, geralmente ponho sempre uma musica na radio, é a Eunice quem me faz companhia usualmente, gosto também muito de escrever mas o pais não está para escritas utilmamente, bem, o pais não está para nada utilmamente como pode o povo pagar por uma crise criada pelos grandes. Não vou divagar sobre isso recusou-me esse tema só me faz triste, a crise e o amor. Se ao menos em miúdo, tivesse fechado os olhos á economia e ao amor seria agora feliz… Burro é certo, mas feliz.
A cana vibrava novamente, mais umas frases solta saídas do cerne do meu pensamento e estaria ali um peixe a debater-se para escapar. Era só uma questão de esperar. Esperar.

domingo, 8 de janeiro de 2012

ERA 9

Voltei a instalar o isco espetei-lhe um camarão tigre descascado. Decidi por esse, embora na maleta tivesse uma grande variedade de isca; tinha sardinha que podia filetar; tinha lula que podia golpear; tinha camarão tigre e camarão normal conservado em sal, tinha minhoca casulo, tinha uma ou outra amêijoa, e caranguejo não tinha mas podia á vontade apanhar perto das rochas. Montem o anzol intermédio pois tanto podia apanhar um peixe pequeno como um peixe grande geralmente usava material intermédio para abranger varias hipóteses. Lancei ao mar e anotei a hora: eram três e meia da madrugada. A vara não se mexeu durante 5 minutos, vergou então ligeiramente mas nada que me fizesse levantar da areia. Então começou a chover. Bem fui avisado pelos meus amigos que iria chover, por enquanto caíam pequenas pingas, come se o mar tivesse alma e aspejá-se-me agua, como se disse-se “acorda miúdo”, mas sabia que iria piorar, talvez não agora, talvez esta chuva miúda fosse um advertência para algo mais forte, como se quisesse que me fosse embora porque iria cair fortemente. Era inverno e já há mais de um mês que não chovia, não me importava que chovesse agora. Se a natureza dizia para me ir embora eu decidi ficar. Vesti a gabardina para não molhar os blusões, tirei o café que tinha feito em casa e a lata de anchovas e ali fiquei. O mar disse “vai-te” e eu respondi-lhe “não”.