sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A viagem Parte 1



  A paragem do autocarro ficava no quilómetro oitenta daquela estrada isolada e era composta apenas por uma vara de metal, hirta na berma, com um placa que a identificava. Não havia qualquer tipo de refugio que proporcionasse sombra. O Sol já queimava e era ainda inicio da manha. Autocarro nem vê-lo! Estaria atrasado? Ou já tinha passado e ele não dera conta? No bilhete dizia que arrancava do terminal às 9h30 e demoraria cerca de 15 minutos a chegar àquele troço mas eram efectivamente 10 horas quando Carlos olhou novamente o seu relógio suspeitando algum imprevisto.

Aborrecia-lhe a ideia de ir para Faro tendo que fazer o transbordo em Lisboa. Feitas as contas, com o autocarro a parar em todas as terriolas, demoraria um dia até a Lisboa e mais outro até a Faro. Tempo não lhe faltava para congeminar alguma trama ou escrever alguma aventura no seu moleskine. 

Carlos olhava o horizonte onde a estrada tocava o céu e as formas das árvores e dos arbustos ondulavam com a refracção dos raios solares. Era possível avistar algo ao longo da estrada que se parecia com poças de agua mas que ele sabia bem que não passavam de miragens, nada mais do que ilusões ópticas. 
As calças, a camisa e a gravata tornavam-se exageradamente desconfortáveis e ele já tinha recolhido o casaco e o colete que pousara sobre a maleta que estava no chão.  Na zona das axilas era visível uma grande macha de suor e na testa acumulavam-se gotículas que iam ficando maiores e cairiam-lhe nos olhos certamente se ele não passa-se de tempos a tempos o lenço para enxaguar a testa e limpar os óculos escuros.  Decidiu sentar-se em cima da maleta. 


 Ouvia-se o barulho de um motor ao longe, até que enfim chegara, 30 minutos atrasado mas chegara. Carlos voltava a olhar para o horizonte tentanto avista-lo e preparava-se para fazer sinal para parar. Contudo não era o autocarro que se aproximava, era um carro comum. À medida que avançava, o veiculo tornava-se mais nítido, já se conseguindo destingir alguns aspectos; era vermelho, era antigo, era um Ford Escort, era um XR3 conversível. A disposição dos farolins era inconfundível. A capota estava recolhida e dentro do carro vinha uma mulher a guiar e atrás conseguia se destingir uma criança que não deveria ter mais do que 6 ou 7 anos. Carlos contemplava distraidamente as linhas do carro quando o mesmo parou à sua frente.