terça-feira, 14 de setembro de 2010

Fazer uma chamada.

Logo que abri a porta de casa, chegado de mais um laborioso dia de trabalho, imediatamente senti a falta de alguma coisa. Á porta, não fui recebido pela família; não fui recebido pelo cão, nem pela tartaruga, nem pelo gato, e nem sequer os canários cantaram louvando a minha chegada. Contudo fui efectivamente recebido por algo: o silêncio e a solidão. Por vezes imploramos por silêncio e quando ele aparece, desejamos um pouco de barulho resultante de algum movimento. Puh! Alguém alguma vez entenderá o que os humanos realmente querem?
Pousei a mochila, o casaco e fui passar água na cara ao que depois sentei-me na cadeira contemplando o silêncio. “Podia agarrar no telemóvel e fazer uma chamada” pensei eu. Uma única e simples chamada e logo teria três ou quatro ou mesmo seis amigos para sair, para beber, fumar, passear, curtir, avacalhar e até atrofiar. Mas não!... Não era isso que eu queria. Queria estar com amigos sim, mas uma coisa simples: um copo ou dois, um ou dois martínis, sem complicações, uma conversa simples provida de alguma intelectualidade, sem discussões, uma coisa diferente, calma, amena, agradável. Mas isso era fisicamente impossível, pois como mencionei anteriormente, esse tipo de noite seria sucedida de muitos copos, atrofios, muito tabaco, entre outros inúmeras chatices e substâncias nefastas. Não! Não era isso que eu queria. Decidi então ficar sozinho.
Tomei a liberdade de me prevenir com alguns pack’s de cerveja - antes de chegar a casa – que iriam acompanhar um prato de camarões com molho caril preparado por mim. Preparei-os a preceito, seguindo a receita com rigor sem faltar qualquer ingrediente ou especiaria. Preparei-os com tamanho primor, como se fossem para uma visita que se tivesse sentado e fosse fazer-me companhia. Mas não! Não havia companhia. Eu estava sozinho.

“Só me falta companhia” reflecti mais uma vez ao colocar o petisco e as cervejas já frescas na mesa. Senti-me como “aquele” caguinchas que está sozinho no cinema, numa sala quase vazia onde apenas se encontram quatro ou cinco casais espalhados pela sala.
“Excelente ideia! É isso mesmo! Vou ver um filme!” comentei com os meus botões. Da vasta colecção que tinha, optei pelos clássicos e desses escolhi um a preto e branco.
Os camarões estavam maravilhosos, papei-os de uma assentada. Estavam tão deliciosos que terminei o prato passados 20 minutos decorridos do filme, ao que depois fiquei-me pela cerveja enquanto ia fumando comodamente um cigarro por cada 3 cervejas.
Findo o filme; bati palmas, estava sozinho por isso ninguém iria achar estranho. “Que clássico! Nunca me canso de ver isto!” comentei.
Dirigi-me a aparelhagem e “botei” o CD da Cortney Love. Fiquei a ouvir identificando-me um pouco com a sua solidão – já devia estar fresco. “I've made my bed I'll lie in it. I've made my bed I'll die in it” dizia ela “There is no milk. There is no milk”, pois não… não há, vou abrir mais uma lata, “When I went to school in Olympia. And everyone's the same” continuava ela. Sim! Identifiquei-me com ela estava com sozinho, com quem me podia eu identificar? Apeteceu-me escrever. Agarrei na amiga caneta e no estimado papel e escrevi esta singela narrativa.
Podia agarrar no telemóvel e fazer uma chamada. Uma única e simples chamada e logo teria três ou quatro ou até seis amigos á porta para ir beber. Mas não!... Decidi ficar sozinho.

O Poeta

Ja passaram largos dias desde o ultimo post. Falei com O Poeta para me arranjar algo. Espero que gostem.

Atenciosamente

El Patronito o Ardina