O despertador tocou bem cedo,
eram nove horas. Levantei-me e abri imediatamente todas as cortinas do loft para
entrar o sol. Estava bem-disposta e com vontade de aproveitar o dia. Decidi ir
ao cabeleireiro do Júlio, tinha a sensação que o meu cabelo estava uma lástima ao
que ele admitiu quando lá cheguei, porém a sua estratégia de marketing é dizer a
todos os cabelos que estão uma lástima.
- Cherrí! - disse ele ao ver-me –
Olha-me esse cabelo – nem me deixou falar, não proferi sequer uma palavra – Ia
perguntar-te como estás fofa, mas o teu cabelo confessou-me tudo. Está as precisar
de um arranjo, está uma lástima. Meu Deus! ainda por cima tenho o salão cheio,
mas não te preocupes, arranjo um espaço para ti querida, tu mereces. Também deve
ser aquele teu patrão mal-encarado que te anda a desgastar, não te dá descanso.
Trata-me mal o ordinário?
Júlio fazia maravilhas com os
cabelos, era óbvia a sua orientação sexual e o principal defeito era ser um alcoviteiro
da pior espécie Era necessário mais do que uma vez chamar-lhe a atenção, no
entanto gostava muito dele e era a minha primeira escolha quando se tratava de
arranjar cabelos.
- Ele não é mal-encarado nem
grosseiro. Mas tens razão Júlio o trabalho dá cabo de mim.
- Vê-se
filha! Olha como estás?
- Não estou assim tão mal.
- Não está assim tão mal porque a
natureza deu-te o dom da beleza. És uma Afrodite mas mais algumas semanas e
entravas aqui feita num farrapo.
- Que exagero Júlio.
- Exagero é o teu cabelo.
Não esperei mais do que 15
minutos para estar sentada num cadeirão á confiança das mãos de Júlio. Ele perguntou-me
o que queria, sugerindo acentuar os caracóis, rapinar as pontas gastas e
dar-lhe um tratamento revitalizante. Mas eu disse-lhe que desta vez queria experimentar
desfrisar. Ele ficou surpreso mas eu continuei. Queria um corte curto, assimétrico.
Disse-lhe que abusa-se do desfiado e do degradê. Queria um corte curto na nuca
que preserva-se as pontas longas.
- Mas e os caracóis, honey.
Tens caracóis que metem inveja a qualquer mulher.
- Eu sei Júlio mas quero experimentar
algo diferente e não é permanente não sejas tão dramático. Sou a tua cobaia.
Confio em ti.
- Pois bem, assim seja Amanda.
Ele trabalhou durante uma hora da
qual pouco falou o que não era comum. Suou de andar de volta dos meus cabelos
ora estava á minha direita ora estava a minha esquerda. Creio nunca tê-lo visto
tão concentrado. Com uma das mãos prendia as pontas dos cabelos com a tesoura na
outra mão cortava-as, o pente prendia-se-lhe nos lábios sempre pronto a alisar
e alinhar os cabelos. Era incrível o sincronismo dele a trabalhar com aquelas
ferramentas. Esforçou-se ao máximo e enfim, após uma hora ele havia terminado.
- Et voilá. – finalizou Júlio
- Está perfeito. Oh Meu Deus como
está perfeito, e desconfiavas tu do teu talento. Devias ter vergonha.
- Depois do resultado final até
eu estou surpreendido – comentou Júlio – superei-me em larga escala.
- Não te trocava por um Paul Mitchell.
Muito obrigada.
- Kiss beautiful. Agora terá
qualquer homem aos teus pés.
- Todos, menos aquele que eu
quero. Mas não vou estragar o dia com essas pieguices. Obrigado Júlio.
Aquele cabelo deu-me confiança para o dia
inteiro, sabia no entanto que o dia ainda reservava algum trabalho com a festa
que ia organizar. “Amanda” pensei “estás simplesmente fantástica”. Os homens
olhavam-me fixamente mas creio que se apaixonavam apenas pelo cabelo do que
pela embalagem toda. Mas que importa aquele corte fazia-me sentir dona do
mundo. Adoro estes dias. Quem dera que todos assim fossem. Agora...tratemos da festa.
Sarah Van Winkle
Em “ O diário de Amanda”
Sem comentários:
Enviar um comentário