quinta-feira, 17 de maio de 2012

Saíram todos detrás da cortina e gritaram. Parabéns. Parte 1 (Júlio)

            O dia começou bem. Já pedira o dia ao Gerard há mais de um mês. Ele gentilmente mo concedeu após um enorme discussão que surgiu por outros motivos, estritamente profissionais.
O despertador tocou bem cedo, eram nove horas. Levantei-me e abri imediatamente todas as cortinas do loft para entrar o sol. Estava bem-disposta e com vontade de aproveitar o dia. Decidi ir ao cabeleireiro do Júlio, tinha a sensação que o meu cabelo estava uma lástima ao que ele admitiu quando lá cheguei, porém a sua estratégia de marketing é dizer a todos os cabelos que estão uma lástima.
- Cherrí! - disse ele ao ver-me – Olha-me esse cabelo – nem me deixou falar, não proferi sequer uma palavra – Ia perguntar-te como estás fofa, mas o teu cabelo confessou-me tudo. Está as precisar de um arranjo, está uma lástima. Meu Deus! ainda por cima tenho o salão cheio, mas não te preocupes, arranjo um espaço para ti querida, tu mereces. Também deve ser aquele teu patrão mal-encarado que te anda a desgastar, não te dá descanso. Trata-me mal o ordinário?
Júlio fazia maravilhas com os cabelos, era óbvia a sua orientação sexual e o principal defeito era ser um alcoviteiro da pior espécie Era necessário mais do que uma vez chamar-lhe a atenção, no entanto gostava muito dele e era a minha primeira escolha quando se tratava de arranjar cabelos.
- Ele não é mal-encarado nem grosseiro. Mas tens razão Júlio o trabalho dá cabo de mim.
            - Vê-se filha! Olha como estás?
- Não estou assim tão mal.
- Não está assim tão mal porque a natureza deu-te o dom da beleza. És uma Afrodite mas mais algumas semanas e entravas aqui feita num farrapo.
- Que exagero Júlio.
- Exagero é o teu cabelo.
Não esperei mais do que 15 minutos para estar sentada num cadeirão á confiança das mãos de Júlio. Ele perguntou-me o que queria, sugerindo acentuar os caracóis, rapinar as pontas gastas e dar-lhe um tratamento revitalizante. Mas eu disse-lhe que desta vez queria experimentar desfrisar. Ele ficou surpreso mas eu continuei. Queria um corte curto, assimétrico. Disse-lhe que abusa-se do desfiado e do degradê. Queria um corte curto na nuca que preserva-se as pontas longas.
- Mas e os caracóis, honey. Tens caracóis que metem inveja a qualquer mulher.
- Eu sei Júlio mas quero experimentar algo diferente e não é permanente não sejas tão dramático. Sou a tua cobaia. Confio em ti.
- Pois bem, assim seja Amanda.
Ele trabalhou durante uma hora da qual pouco falou o que não era comum. Suou de andar de volta dos meus cabelos ora estava á minha direita ora estava a minha esquerda. Creio nunca tê-lo visto tão concentrado. Com uma das mãos prendia as pontas dos cabelos com a tesoura na outra mão cortava-as, o pente prendia-se-lhe nos lábios sempre pronto a alisar e alinhar os cabelos. Era incrível o sincronismo dele a trabalhar com aquelas ferramentas. Esforçou-se ao máximo e enfim, após uma hora ele havia terminado.
- Et voilá. – finalizou Júlio
- Está perfeito. Oh Meu Deus como está perfeito, e desconfiavas tu do teu talento. Devias ter vergonha.
- Depois do resultado final até eu estou surpreendido – comentou Júlio – superei-me em larga escala.
- Não te trocava por um Paul Mitchell. Muito obrigada.
- Kiss beautiful. Agora terá qualquer homem aos teus pés.
- Todos, menos aquele que eu quero. Mas não vou estragar o dia com essas pieguices. Obrigado Júlio.
 Aquele cabelo deu-me confiança para o dia inteiro, sabia no entanto que o dia ainda reservava algum trabalho com a festa que ia organizar. “Amanda” pensei “estás simplesmente fantástica”. Os homens olhavam-me fixamente mas creio que se apaixonavam apenas pelo cabelo do que pela embalagem toda. Mas que importa aquele corte fazia-me sentir dona do mundo. Adoro estes dias. Quem dera que todos assim fossem.  Agora...tratemos da festa.
Sarah Van Winkle
Em “ O diário de Amanda”

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