terça-feira, 10 de janeiro de 2012

ERA 11

Repito-me dizendo que a cana vibrava fugazmente. A noite tinha sido frutífera, eram já 3:50 e apanhara 2 peixes, mesmo que até as 5h não apanha-se mais nada, não ia de mãos vazias.
Era engraçado observar a cana a vibrar e saber que não estava lá nada. A primeira vez que pesquei foi obviamente com o pai. Ele dava grandes lições na pesca, e eu, ainda catraio, provocava-lhe risos sempre que a cana vibrava porque ia chama-lo a esbracejar “apanhei, apanhei”. Ele inicialmente olhava para a cana, mas na verdade era simplesmente maré que a fazia vibrar, era a maré ou os peixes a picar a isca. Ao longo da prática da pesca aprende-se a distinguir a oscilação da cana provocada pela maré, de um peixe que picou o anzol.
Então estava eu, sem tirar os olhos da cana, a ver se alguma coisa picava e ela vibrava não havia dúvida. O pai constantemente dizia que era a maré e eu chateava-o e ia a correr ter com ele, á sua cana a gritar: “apanhei, apanhei”, ele respondia sempre com sorriso: “ é a maré, é a maré”. Eu lembrava-lhe os miúdos em viagem que perguntam a todo o minuto: “já chegámos…, já chegámos” ou aqueles que estão na misse e perguntam sempre se estão a portar bem. É!… o pai se aqui estivesse ainda me havia de ensinar coisas úteis, muito úteis na verdade. Sabia quando havia de repreender e quando sorrir.
Perdi-me outra vez nas minhas divagações, devaneios, se lhe quiserem chamar isso. Tinha uma lata de anchovas para comer e uma caneca de café para beber. A cana vibrava mas ainda não estava lá nada, fui então comer sossegado pensando nas palavras do pai. “É a maré…É a maré”

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