segunda-feira, 17 de maio de 2010

Era uma Lagarta.

Era uma Lagarta, que passeava lá no meu jardim. Por Deus!, não podia com ela, e dela pouco gostava.
Ora, não é que a malandra comia-me as folhas todas daqueles rebentos que eu havia plantado no verão; que cresciam sãos e fortes, davam frutos maravilhosos e que odorizavam um magnífico aroma a “natural”, a fresco.
Enquanto as minhas plantas cresciam sãs e fortes, também ela crescia proporcionalmente; a safada engordava tanto como engorda um bacorinho apaparicado. Não seria de esperar outra coisa, com a qualidade das folhas com que ela se alimentava.
Deixou-me doido, e sinceramente já não sabia o que fazer com a patifa; mordiscava-me as folhas de uma maneira que mais parecia um corta-relvas. Dei por mim a puxar os cabelos, a pensar numa forma de travar a fedelha. Mas no entanto jamais!, ousei sequer pensar, ceifar-lhe a vida, embora tivesse experimentado tudo para que ela muda-se de casa: repelentes naturais, cortar umas folhas, borrifa-las, tudo! Mas não, a malandreca lá ficou. Assim, não o fez e lá permaneceu, forte, hirta, crescendo nas folhas como cresce um catraio no auge da sua criancice
A miúda devastou-me a maior parte das folhas que lá havia, desde as miúdas às graúdas, poupou cuidadosamente a mais bonita, para se refastelar sob a sua sombra, e fazer lá o seu casulo.
E passados 2 meses, sair da sua toca como uma linda borboleta.
Apesar de linda queria ser esperta, pois queria lá instalar as suas 100 filhas descendentes que haveriam de me devastar ainda mais as couves. Aí sim! Sem pensar duas vezes, comprei um repelente também ele natural, que não magoa ninguém, para ela não as por lá. Não chegou a por. No entanto daquele casulo branco e redondo saiu uma bela borboleta, não haja dúvida disso, parecia até uma fada.
Não havia manha ou tarde solarenta que ela não estivesse na minha varanda, quantas vezes me levantei sonolento para a ver, quantas vezes ao lado dela bebi o meu leite aquecido, com mel, enquanto ela aquecia as suas asas coloridas ao sol. Nada me deixava mais alegre e contente do que vê-la ali. Era como se ela, todas as manhas, me desse os bons dias.
Mas por momentos, a borboleta ergueu-se e metamorfose, mesmo, numa fada: vestia uma túnica vermelha, carregada de uma beleza transcendente, suas assas eram frágeis e translúcidas, o seu cabelo ruivo, pendia encaracolado sobre os seus ombros, e a franja caia na face, quase escondendo os seus magníficos olhos azuis. Ela toucou-me com a varinha de condão que era um singelo ramo de uma folhagem, como se estivesse a proporcionar-me um desejo. E depois? Depois desapareceu. Tudo não passara de um belo sonho. A lagarta, estava lá sim, a comer-me as folhas sim, tornou-se numa borboleta esplendorosa sim, e ainda hoje passa-me no parapeito para me dar uns bons dias, mas não era fada. A borboleta era tão bonita que a tomei por uma fada e só e só Deus sabe quanto eu necessito de uma fada. Só Deus sabe, quanto o mundo carece de fadas.


O Poeta

Um bem haja e um FELIZ ANIVERSÀRIO.

El Patronito o Ardina

Sem comentários: