terça-feira, 23 de março de 2010

Este ano não vai haver Cravos. Capitulo 6 parte 4

Na igreja o frade acabava de soar as badaladas do meio-dia nos carrilhões, depois de ter descido a enorme escada em caracol, sentou-se cansado no segundo largo banco a contar do altar; ele não rezava, alias, ele rezava a toda a hora, mas neste momento descansava sentado no banco a pensar na vida. Na fila paralela mais atrás - talvez umas 6 cadeiras - estava ele.
Sabe!... – Disse ele apanhando o frade desprevenido - nunca pensei ter tantas semelhanças com ele.
Óh… estavas ai, nem reparei. Estive a soar a cantilena do meio-dia; às vezes parece que estes velhos compadres falam comigo. Bem, se falassem haveriam de ter muito para dizer - disse o frade referindo-se aos sinos - mas creio que não vieste cá para falar de carrilhões. Conta-me lá o que te melindra. – finaliza o Frade.
Ele, que estava uns seis bancos mais atrás, levantou-se e dirigiu-se ao Frade para se sentar com ele em frente ao altar:
- O meu pai lutou na colonial mas reformou-se antecipadamente pois não concordava com ela – disse ele sentando-se ao lado do Frade.
- Bem partilho da mesma opinião; guerra, morte e sangue não justificam os fins da ganância.
Mas há desentendimentos.
Sem dúvida; discordar é uma liberdade incondicional do ser humano – Afirmou o Frade.
Eu não sou má pessoa – disse ele – não percebo como as vezes me vêem como tal. Às vezes tenho a sensação que esta guerra é só, e apenas minha.
Sabes! És um rapaz inteligente, pronuncias palavras e conceitos brilhantes, se te conhecesse ainda novo, tentaria fazer de ti um padre. A tua Mãe costumava dizer que quando nasceste, uma freira olhou para ti e disse que ias ser padre. Ha ha – riu o frade – a vida dá muita volta, mas não acredito que o teu destino esteja confinado a seres mais um escravo desta sociedade governada pelo capitalismo. Mas que percebo eu disso, limito-me aqui a ler a bíblia e a reflectir sobre a vida.Passo o meu tempo a falar com os meu camaradas lá de cima, -os carrilhões - com deus, com os fieis, com as paredes, os frescos, os azulejos. É…! Isso pode parecer monótono para alguns mas no entanto, “Não é o que planta o agricultor que faz dele, um bom agricultor, é a atenção que ele dá as suas plantas, seja ela qual for.
- Ora Frade! Pode parecer insignificante a sua função mas acredite que tem, bem mais utilidade que muitas outras que ai andam.
- O teu pai sempre aqui esteve. Era daqueles que falava com toda a gente do bairro, todos o conheciam. Tinha sempre um sorriso na cara e um bom dia para nos dar. Tu herdaste muito dele. Até mesmo essa atitude que tens. É bom olhar-te e ver muito dele em ti.
- Obrigado frade pelo tempo que lhe roubei – agradece o jovem
- Ora ora, não me agradeças! Fico até contente que apareçam aqui pessoas.
- Como podia eu não lhe agradecer. Vim aqui melindrado com os meus problemas, desabafei e desafoguei, velando apenas por mim e nem lhe perguntei se precisava de ajuda para alguma coisa.
- Ora bem que falas nisso, preciso sim! Preciso que acendas uma vela para te iluminar o caminho.
- O frade é único sabia disso? - Disse ele dirigindo-se ao altar.
- Capitão! Não te percas no caminho.
- Perdido, já eu estou há muito tempo, tenho é que me encontrar - Suspirou o Capitão dirigindo-se á saída.
Na sede, caracterizada por ser um prédio velho e decrépito, o capitão entrou e todos aqueles “ocupas” se alegraram de o ver. Todos eles achavam o Capitão, uma pessoa bondosa. Igualmente, Capitão os cumprimentou, sempre com um sorriso na cara até ao chegar ao último andar onde todos os seus colegas o esperavam:
- Onde está a Jenny? – disparou Max
- Estou aqui, não te preocupes! – Declarou Jenny entrando na sala e pacificando o ambiente de tensão que se sentia nela.
- O que andaste a fazer este tempo todo? Andámos todos preocupados com vocês.
- Estou aqui, não estou? Nada se passou comigo. Estive na choça, só isso.
- Isto está a ficar fora de controle. – Avançou Freddy.
- E de que te queixas irmão.
- Não me chames irmão!… O meu problema é que uma já foi presa, o que poderá acontecer a seguir. Andamos aqui a brincar ao Che Guevara como criancinhas. E na verdade, nada fazemos, senão brincar. Isto é tudo uma ilusão.
- Consegui os pescadores…que tal isso para ilusão.
- Como? – replicou Freddy abismado
- De Cascais e de Sesimbra. Conseguias fazer melhor?
- Não isto já esta grande demais.
- Agora vou descansar, não durmo bem há dias. È melhor aproveitar agora antes que surja outro qualquer problema.

Capitão Caguinchas

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