sábado, 22 de outubro de 2011

Era

Eram cerca das oito da noite quando sai de casa, já se fazia sentir uma ligeira aragem, mas eu sabia que a brisa que se entranhava nos ossos, fazia doer os músculos e criava pingos no nariz era aquela que soprava na praia.
Entrei na carrinha de caixa aberta e dei á chave, mas não pegou "outra vez" pensei eu, quando isto acontece tenho que esperar em média 10 minutos, mas àquela hora da noite 10 minutos passavam-se rápido. Resolvi pegar no jornal desportivo que comprei de manha, ainda nem sequer o tinha folheado, e ver os resultados da bola, queria ver como se aguentava o glorioso com o novo guarda-redes e o novo reforço no ataque. Acabei apenas por ver os títulos com letras garrafais pois quando dei por mim estava a bater os dez minutos certos. Dei á chave novamente e desta vez o motor pegou, talvez alguma tosse o impedira de andar da primeira vez.
Demorou cerca 30 minutos a viagem porque não havia muito transito, demoraria mais de 45 se alguma manobra de algum condutor inexperiente provocasse um engarrafamento. Foi curioso ver que no decurso da viagem muito carros que me ultrapassaram munidos de canas, suportes e inúmeros utensílios á pratica da pesca incluindo roupa extra na bagageira, iriam tentar a mesma sorte que eu neste mesmo passatempo ou vicio se assim se poderá chamar. Cheguei á outra margem onde as praias são mais sossegadas mas dirigi-me especificamente a uma, a pequena praia da cova do vapor. Embora frequentemente fosse acompanhado, hoje ninguém se juntou, avizinhava-se uma certa chuva fraca mas seguida de uma aberta e sol, talvez por isso todos se tivessem afastado da circunstância, mas que importa, quem sabe se não apanharia alguma coisa que valesse a pena. Fazia 2 anos que não apanhava algo significativo, apanhava geralmente aqueles sargos ou robalitos pequenos que não serviam mais do que para salgar e comer como petisco ou para usar como isca também Hoje levei uns camarões em sal, camarões de tamanho intermédio, descasquei-os em casa e pu-los em sal para enrijecer a carne para o peixe que o morder não o debicar tão facilmente, há quem diga que o sucesso está na isca utilizada outros são da opinião que é a maneira como se põe a isca que é crucial á boa apanha.
Cheguei ao local e estacionei a carrinha no descampado que ficava a poucos metros da praia e depois de tirar o material, carreguei-o até á beira-mar. A maré parecia estar a vazar, manter-se-ia assim durante umas 2 horas e voltaria a encher. Comecei por fixar o suporte da cana na areia perto da rebentação, era um suporte barato sem grandes mariquices de ligas metálicas fortes e resistentes a corrosão... nada disso. A linha multifilamento suportava 80 libras de peso e tinha um diâmetro de 0.48mm, quando uma linha monofilamento de diâmetro 0.57 mm suporta cerca de 40 a 50 libras de peso traduzidos em quilos ronda os 18.5 kg podendo chegar aos 20 kg. Bem sei que a resistência é maior ao lance mas é mais fiável na captura, quantos nylon’s se partiram no momento célebre da captura de algum espécime mais bravo. A memória da linha era muito baixa o que aumentava a qualidade da mesma, havia ainda as linhas de maior diâmetro o máximo creio eu ser de 200 libras para multifilamento mas eu não ia também capturar nenhum tubarão branco, as multifilamento, embora mais caras, eram mais fiáveis, com essas linha inquebráveis das duas uma: ou o peixe é apanhado ou a cana fratura, nenhum peixe se escaparia daquela linha, a não ser que a cana se partisse, o que era improvável, ou que o pescador fosse arrastado para o mar. Ehehehe… já viram algum pescador ser pescado por um peixe grande? Com efeito perdia elasticidade, mas não me ralava pois quanto mais longe lançasse a chumbada mais hipóteses tinha de apanhar algo digno. Se apanhasse um peixe grande não corria mesmo o risco da linha se partir.
Instalei o carreto ou molinete, como chamam em outras regiões, na cana. O carreto suportava 250 metros de linha se bem que ao arremessar não o atirava mais longe do que 25 metros. A cana telescópica era de fibra de carbono e era bastante flexível o que já me dava margem para usar um nylon de diâmetro maior. Enquanto montava tudo ia pensando no tempo decorrido em que não apanhara um peixe digno de ser pescado, já começava a ficar mal perante os meus amigos e colegas de pesca.
Já tinha tudo preparado á beira-mar, faltava apenas o isco. Abri a maleta em que trazia inúmeros tipos de isco: tinha um saco com gelo em que tinha disposto um choco que podia cortar em filetes, e podia utilizar o mesmo método com a sardinha e a lula que acompanhavam o choco, mas optei apenas por um com que já andava a sonhar: o camarão. Os camarões vinham descascados e sob uma camada de sal grosso, dentro de num boião onde também lá havia algumas tiras de bacalhau-graudo ainda seco. Experimentei primeiro um pequeno filete de bacalhau, deixei apenas um nano milímetro da ponta do anzol á mostra, não fosse essa a técnica ganhadora, e lancei a chumbada ecológica o mais longe que podia. A chumbada pelo toque deve ter percorrido cerca de 20 metros ao senti-la cair na água, esperei que alguma coisa picasse.

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