sexta-feira, 28 de outubro de 2011

ERA 2

Enquanto esperava, receei que as chumbadas que acabara de adquirir me estragassem alguma oportunidade. Era a primeira vez que usava chumbadas ecologias, apenas se denomina chumbadas pelo uso recorrente do elemento químico, metal tóxico que é, nada mais, nada menos e sem grandes surpresas, que o chumbo no fabrico de pesos ou lastro para imobilizar o anzol no fundo do mar. Estima-se terem sido até aos dias de hoje depositadas 500 toneladas de chumbadas metal nocivo á vida marinha no fundo dos rios e lagos, apenas por causa da pesca. Como todo metal pesado, o chumbo degrada-se muito lentamente no meio ambiente, persistindo durante décadas no solo e no fundo de rios, lagos e represas. Não é metabolizado pelos animais e sofre o processo de bioacumulação, afetando mais os animais do topo da cadeia alimentar, entre os quais está o homem. Por seu lado o fabrico das chumbadas ecológicas emprega materiais como argila, areia e pó de pedra, os quais são biocompatíveis com o fundo dos rios e lagos, em substituição às tradicionais de chumbo, que contaminam a água e os peixes. O peso cerâmico - ou ‘chumbada’ cerâmica – deteriora- se depois de um ano e meio mergulhada na água. Os resíduos se reintegram ao solo por completo.
Só agora me apercebi que estou a falar sozinho pareço um louco, vê-se muitos loucos a falarem sozinhos. Mas será que se é louco se estivermos a pensar alto. Pois para mim estou simplesmente a pensar alto. A pesca para mim nunca foi mais do que um momento de introspeção em que pensamos o que quisermos, o mar é a nossa companhia é a nossa maior amiga há de sempre receber-nos de braços abertos e as suas subordinadas ondas levam os nosso desabafos para longe, levam os nosso pensamentos para outra margem, podemos contar segredos e expressar desejos pois o mar nunca nos vai trair a confiança protege-nos dos nossos medos é como uma mãe que acolhe o filho e embrulha-o nas suas mantas pois há de lá estar sempre para nos ouvir, para nos acolher e nos proteger de tudo. É aquele ser que nos atira pingas de água quando estamos tristes, distraídos, é como se nos pergunta-se: “hey estás bem?“ e diz-nos se sentimos a água a cair na cara é porque está vivo. A vida é um navio e tens que ser o capitão do teu navio, tens que ser o capitão da tua vida. Interrompi-me do exercício do monólogo porque a cana vergou ligeiramente e voltou a ficar hirta olhei atentamente para o “star” que é um pirilampo que se põe na ponta da cana para a prática da pesca á noite. Ela vergou mais um pouco e mais um pouco voltando sempre a ficar hirta novamente mas não estava agitada. Eu sei, era o peixe que lá andava a cheirar a isca, parece ter funcionado ao menos dava para perceber que aquela zona estava agitada. Esperei atentamente que ela vergasse mais vezes, analisaria assim a possibilidade de apanhar algo naquela zona, sabia que iria cair em monólogo novamente, como um louco. Cómico, o poeta quando abre o seu coração e escreve o poema no papel não estará também ele a falar sozinho, a pensar alto será mais o termo, ou estará a falar com o papel a expressar os seus desejos sonhos medos e segredos tal como eu faço com o mar. Um poema não é mais do que a manifestação de um sentimento por palavras e um bom poeta é aquele que consegue fazer com que os outros partilhem o estado de espírito. A cana vergou mais umas vezes assim que ela ficasse estática mais de um minuto tinha que trocar de isco, se os peixes o tivessem comido todo era um sinal de bem-aventurança.

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